Jardim, de Giovana Madalosso | Coluna CONTO AFORA, edição especial

Em mais uma de suas edições especiais, a Coluna CONTO AFORA traz um conto de Giovana Madalosso: Jardim, que integra seu livro de estreia, A teta racional (Grua, 2016, contos), finalista do Prêmio Clarice Lispector 2017 da Biblioteca Nacional. O texto traz as solenidades que circundam todo retorno, ou tentativa de retorno. Tudo isso sem sobras e de forma sutil, incumbindo ao silêncio o papel da melhor poesia. Atenções a esse nome. Giovana Madalosso.

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A filha mora em outra cidade, está só visitando. Depois do jantar, senta com uma revista no jardim da casa dos pais. De repente, ouve os passos do pai atrás dela, a água do regador caindo nas plantas. Ela continua olhando para a revista, mesmo na penumbra, mesmo não enxergando direito o que está escrito, porque tem essa necessidade de quem mora sozinho de às vezes ficar no seu canto.

O pai chega mais perto dela e olha para cima e comenta sobre o céu, como o céu está limpo. Ela diz que tinha até esquecido a quantidade de estrelas que existem, onde ela mora são tão poucas por causa das luzes. O pai diz que ela deveria visitá-los mais. Ou, melhor ainda, voltar a morar com eles. Ela diz: quem sabe, pai, quem sabe um dia. Depois os dois ficam em silêncio, só a água caindo numa planta e na outra, uma cigarra chiando lá longe. Até que o pai termina o que estava fazendo e diz boa-noite para a filha.

Antes de ele entrar, ela pergunta se ele sempre faz isso, regar as plantas tão tarde. Ele diz que não, nunca, e os dois sorriem um para o outro.

1511708005Giovana Madalosso nasceu em Curitiba e vive em São Paulo. É autora do volume de contos A teta racional (Grua, 2016, contos). Seu próximo livro, o romance Tudo pode ser roubado, sairá em 2018 pela editora Todavia.

 


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